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As Missões de Santificar e Reger

15/10/16

 

Nós vimos alguns meses atrás, em nossa última reflexão, sobre o múnus de ensinar exercido pelos nossos Bispos, juntamente com os Presbíteros, seus colaboradores, que consiste na tarefa primeira de anunciar o Evangelho de Deus a todos os homens. Agora quero refletir sobre os dois múnus restantes, que são os múnus de santificar e reger o Povo Santo de Deus.

O “Catecismo da Igreja Católica” nos ensina (n. 893) que o Bispo tem a responsabilidade de ministrar a graça do sacerdócio supremo, em particular na Eucaristia, que ele ou os seus Presbíteros oferecem, e que se constitui o centro da vida da Igreja particular. Assim, os Bispos e os Presbíteros santificam a Igreja por suas orações e pelos trabalhos que realizam, seja através do Ministério da Palavra ou pela Celebração dos Sacramentos. E essa missão de santificar a Igreja se dá primeiramente pelo exemplo, onde nossos pastores não devem agir como senhores daqueles que eles têm por incumbência apascentar, mas antes devem agir como modelos do rebanho (conf. 1 Pd 5, 3) como nos ensina o nosso querido Papa Francisco. E desse modo, pastores e rebanho chegam juntos à Vida Eterna.

Já quanto à missão de reger o rebanho (nn. 894-896), os Bispos dirigem suas Igrejas particulares (Dioceses) como vigários e delegados de Nosso Senhor Jesus Cristo. E realizam tal tarefa com conselhos, exortações e exemplos. E o fazem com autoridade e com poder sagrado, os quais exercem para edificar o Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja. Tal missão nossos pastores devem exercer sempre no espírito de serviço, que caracteriza o autêntico seguimento de Cristo, o Bom-Pastor.

Os Bispos exercem este poder sagrado em nome de Cristo, sendo este um poder próprio, ordinário e imediato. Mas os Bispos, ao exercerem tal poder, estão submetidos à regulamentação da autoridade suprema da Igreja, que é o Papa. Embora estejam submetidos à autoridade do Sucessor de São Pedro, os Bispos não são vigários do Papa, pois a autoridade ordinária e imediata do Romano Pontífice sobre toda a Igreja não anula a autoridade dos Bispos, pelo contrário, confirma e defende tal autoridade.

A autoridade dos Bispos deve ser sempre exercida em comunhão com toda a Igreja, sob a condução do Papa. E os Bispos, conscientes de seus pecados e fraquezas, devem se compadecer dos ignorantes em matéria de fé e das pessoas que estão afastadas da vida da Igreja, e saírem ao encontro da ovelha perdida como bons pastores. O Papa Francisco tem também insistido muito nesse ponto em suas homilias, discursos, encíclicas e exortações apostólicas.

Os Bispos, e por extensão os Presbíteros, não devem nunca se negar a atenderem suas ovelhas, amando-as como um pai amoroso ama seus filhos, e exortando-as para que alegremente colaborem com ele em seu múnus pastoral. Por sua vez, todas as ovelhas devem estar unidas ao seu Bispo como a Igreja está unida a Jesus Cristo, e como Jesus Cristo está unido ao Pai.

Dessas poucas e belíssimas linhas de nosso “Catecismo”, podemos compreender profundamente a importância de nossos Bispos e Padres ao exercerem as nobres missões de santificar e reger o Povo Santo de Deus a eles confiados. E devemos dar sempre graças a Deus por tantos Bispos e Padres zelosos no seu ministério pastoral, onde muitos chegam ao extremo de doar a própria vida por amor ao seu rebanho. Aqui na nossa querida e amada América Latina temos muitos exemplos de santos pastores, como é o caso do Beato Oscar Romero, Arcebispo de San Salvador em El Salvador, que morreu mártir por defender o seu povo, especialmente os mais pobres e sofredores.

Mas, infelizmente, temos que admitir que muitos de nossos pastores não exercem dignamente o seu ministério pastoral, com os seus múnus de ensinar, santificar e reger a porção do Povo de Deus a eles confiada. E isso devemos fazer, conscientes também de nossa miserável condição de pecadores, e nunca como juízes de nossos pastores, que como nós também sucumbem muitas vezes à tentação do pecado.

Mas é fato triste de se constatar que muitos pastores da Igreja se deixaram contaminar por falsas ideologias, que se constituem no mau joio semeado sorrateiramente pelo Inimigo; e por causa disso estão a ensinar heresias e falsas doutrinas em nossos Seminários e Casas de Formação. Assim, acabam por desviar o seu rebanho da Verdade do Evangelho, conduzindo suas ovelhas por caminhos tortuosos e perigosos. Isso tem feito muitos esfriarem na fé e se sentirem perdidos, como ovelhas sem pastor.

Existem Padres, que são professores em Seminários, que ensinam seminaristas e leigos engajados, só citar para citar um exemplo, que as três Pessoas da Santíssima Trindade, o Pai, e o Filho, e o Espírito Santo, são apenas “figuras” que podem ser desconstruídas. Assim, segundo esses professores, eu posso me dirigir a Deus com atributos femininos, pois Jesus só teria chamado a Deus de Pai por ter vivido em uma sociedade patriarcal e machista, como era a sociedade judaica de seu tempo. Ora, ensinar tal doutrina é um absurdo, especialmente em um Seminário, pois Deus se revelou em Jesus Cristo como um Pai amoroso e misericordioso, não porque Deus se identifica com o gênero masculino e despreza o gênero feminino, mas Deus se revelou como Pai em um sentido que transcende toda a realidade de suas criaturas. Assim Deus é Pai por transcender a esse mundo onde muitas de suas criaturas são sexuadas e se expressam no feminino e no masculino, como nós seres humanos, que nascemos homem ou mulher.

O mundo greco-romano do tempo de Jesus, onde a semente do Evangelho por primeiro foi anunciada depois de ter sido anunciada aos filhos de Israel, era profundamente marcado pelo culto de divindades femininas, as deusas-mães, ligadas principalmente à fertilidade. Ao se revelar como Pai, Deus nos quer ensinar sua total transcendência em relação ao mundo criado e ao culto pagão dos deuses, especialmente em relação às deusas-mães dos antigos gregos e romanos. Nosso querido Papa Emérito Bento XVI ensina de maneira magistral essa verdade de fé, não deixando dúvidas a esse respeito: Deus é verdadeiramente nosso Pai do Céu, pois foi assim que Jesus, o Filho, conduzido pelo Espírito Santo, nos revelou.

Outra heresia ensinada em nossos Seminários, só para citar mais um exemplo, se constitui na desconstrução de uma verdade basilar de nossa fé: a de que Jesus Cristo fundou a Sua Igreja. Alguns Padres estão a ensinar a heresia de que Cristo nunca teve a intenção de fundar a Igreja, e que esta só surgiu após a Sua Morte e Ressurreição com a primeira geração de cristãos. Tal heresia quer opor Jesus Cristo ao Reino de Deus pregado por Ele em sua vida pública, dizendo que Jesus anunciava o Reino de Deus, e que a Igreja nascente deixou de anunciar o Reino para anunciar Jesus Cristo. Ora, isso é outro ensinamento absurdo, pois Jesus é o Reino de Deus, que se faz presente no coração de cada pessoa que O aceita como seu Senhor e Salvador. Não existe oposição entre o Reino de Deus e Jesus Cristo.

E tais hereges vão mais longe ainda, insistindo que a belíssima declaração que Nosso Senhor Jesus Cristo faz no Evangelho de que Pedro seria a pedra na qual Ele edificaria a Sua Igreja (conf. Mt 16, 18), foi apenas um acréscimo tardio ao texto evangélico primitivo, realizado pelas primeiras gerações de cristãos, e que Pedro só teria sido escolhido como chefe da comunidade cristã primitiva, por ser o mais velho entre os Apóstolos, seguindo o costume judaico de o mais velho do grupo ser sempre o líder. Isso é outro absurdo, pois em nenhum momento nos quatro Evangelhos há alguma referência da idade de Pedro. E mesmo se houvesse isso não poderia servir de justificativa para tal afirmação absurda.

Não há nenhum motivo razoável para se duvidar da autenticidade histórica dos textos evangélicos, insinuando que seriam apenas reflexões teológicas das primeiras gerações de cristãos, e que Jesus não teria proferido tal ensinamento ou realizado tal milagre. Lembremos que esses mesmos cristãos da primeira geração, que foram contemporâneos dos Apóstolos, deram, em grande número, a própria vida para testemunhar o Evangelho em um mundo pagão hostil à mensagem cristã. Ninguém é louco ou insensato de dar a própria vida em martírio por uma mentira. Se esses nossos irmãos testemunharam sua fé com o martírio, é porque eles tinham a plena certeza de que tudo o que foi posteriormente escrito nos Evangelhos era verdade, pois eles ouviam essas pregações da boca dos próprios Apóstolos e de seus sucessores diretos, os Bispos. As pessoas mentem para fugir da morte e não para morrer. Somente um desequilibrado mental daria a vida por uma mentira.

E essas falsas doutrinas, que para nossa tristeza, são ensinadas para muitos de nossos seminaristas, não são o único mal causado por aqueles que não são fiéis ao seu ministério pastoral. Muitos de nossos pastores, seguindo a moda do momento, se mundanizaram, achando que assim poderiam estar mais próximos de suas ovelhas desgarradas. Grande engano, que tem causado um mal tremendo em nossas comunidades eclesiais, levando muitos fiéis a se afastarem da vida da Igreja, ou levando muitos a uma falsa conversão, achando que o pecado pode conviver lado a lado com a caminhada cristã.

Tais atitudes escandalosas, de muitos pastores da Igreja que se mundanizaram, invertem a lógica do Evangelho. Muitos pastores mundanos, ao invés de irradiarem a Luz de Cristo ao seu redor se deixaram envolver pelas trevas do pecado e se tornaram cegos guiando outros cegos, pois abraçaram o pecado que deveriam combater.

O Papa Francisco tem ensinado em muitas ocasiões que o mundanismo espiritual que invadiu o coração de muitos filhos da Igreja, inclusive de nossos pastores, é um grande mal que deve ser combatido, se constituindo em uma verdadeira lepra dos dias de hoje, que ameaça o futuro da Igreja. São palavras fortes de nosso Papa, que são uma verdadeira denúncia profética contra os cristãos mundanos.

Que Maria Santíssima, Rainha dos Apóstolos, celebrada em nosso querido e amado Brasil com o título de Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira de nossa nação, interceda por nossos pastores e por todos nós. Amém!!!

 


 

Autor:Flávio Cividanes de Quero
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